quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Kraftwerk @ Coliseu dos Recreios, Lisboa (19-04-15)

Regresso a Portugal de uma das bandas mais proeminentes da história da música, em particular da sua vertente electrónica, sendo considerados por muitos como os "pais" da mesma.
Curioso o facto de nos últimos doze anos os germânicos não terem editado nada e, ao mesmo tempo, ter sido um dos períodos com mais actividade nos palcos, um pouco por todo o mundo. Em Portugal, após passagens pelo mesmo Coliseu (igualmente cheio, tal como hoje, em 2004) e numa avassaladora prestação num Festival Sudoeste de boa memória, uns meses depois do Coliseu, os fãs que nunca os tinham visto ao vivo, puderam matar a sua curiosidade de ver um nos marcos fundamentais da cultura musical moderna, na primeira de duas noites que o grupo tinha agendado para o nosso país.
O mote, desta feita, assentava numa apresentação num formato 3D, com a ajuda dos indispensáveis óculos com ar retro, a fazerem lembrar outros tempos em que se olhava para o futuro, ainda longínquo, como se de uma quimera se tratasse. E os Kraftwerk são isso mesmo, uma espécie de simbiose perfeita entre passado e futuro, onde o presente funciona apenas como o tempo intermédio, de passagem, entre um período em que era preciso inventar quase tudo (no que à música electrónica diz respeito, pelo menos), e outro em que parece que está tudo inventado (aparente falácia, claro está). O quarteto de Düsseldord sabe isso muito bem e, em 2015, o que os Kraftwerk têm para oferecer a quem nunca os tenha visto, é um espectáculo em versão 3D. Será isso suficiente para encher a alma de quem já os viu várias vezes? Talvez não. Mas o que falta em alma (algo contraditório, já que é de máquinas, ou de humanos que se comportam quase como autómatos, que falamos), sobra em qualidade em cada um dos dezasseis temas apresentados ao longo de quase duas horas e meia, o que serviu para saciar os menos melómanos e para confirmar, aos restantes, que já tinham "ouvisto" isto, quase na mesma ordem, em qualquer sítio.
Ralf Hütter, único elemento fundador ainda no activo após a saída de Florian Schneider, em 2008, igual a si próprio, numa pose imutável e minimalista, tal como os outros três elementos que o acompanham em palco, protótipo do rigor germânico pós-guerra, parece querer (de)mo(n)strar que a música de dança ainda tem alguns capítulos por completar, e que a máquina electrónica germânica por ele liderada, quer continuar a escrever com linhas de ouro uma história que leva já quarenta e cinco anos de criatividade inigualável.

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