quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

First Breath After Coma (showcase) @ FNAC Coimbra (15-02-14)

O "formato de canção onde a melodia e a voz se cruzam com a intensidade própria" do post-rock (o género que os inspira). «The Misadventures Of Anthony Knivet», o álbum de estreia, foi o mote para apresentar 5 temas: "Almadabra", "Shoes For Man With No Feet", "Knivet", "Escape" e "Apnea". Disco mais que recomendável, aqui ou em qualquer outra parte do mundo.

A Naifa @ Oficina Municipal de Teatro - Coimbra (13-02-14)

(Post) Fado de combate para lutar contra o velho e bafiento "fado" que (nos) querem impôr. A nova portugalidade musical passa (há já algum tempo) por estes lados. Coerência, competência e criatividade fazem das canções d'A Naifa algo que urge ver e ouvir. Sempre!

Noiserv @ TAGV - Teatro Académico Gil Vicente (24-01-14)

O ano de 2014 começa bem em termos de concertos. David Santos (aka Noiserv) é um dos músicos nacionais mais interessantes dos últimos anos e, como prova disso, o seu último «Almost Visible Orchestra (A.V.O.)» recebeu uma plateia cheia (para os mais seguidores da sua carreira, é fácil constatar a evolução desde a sua estreia, quase incógnita, até agora, com um reconhecimento tão abrangente). O "homem-orquestra" apresentou canções sobre a beleza e a simplicidade do dia-a-dia, sobre a importância das pequenas coisas e de pequenos gestos, fazendo introduções simpáticas sobre o contexto de cada tema, da sua feitura. A viagem sonora passou ainda pelo primeiro e interessante registo, «One Hundred Miles From Thoughtlessness», bem como pela banda-sonora do documentário «José e Pilar», com o tema "Palco do Tempo". Um palco que teve a ilustração digital de Diana Mascarenhas, autora também da capa de «A.V.O.», feita com várias peças de azulejo, formando um original puzzle no final. No final do ano, Noiserv constará, uma vez mais, nas listas de "best of".

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Spain @ Misty Fest (Porto) (18-11-13)

A 19 de Maio de 2012, finalmente (e algo tardiamente também, diga-se em boa verdade), conseguia ver uma das minhas bandas de eleição pela primeira vez, num concerto a todos os níveis exemplar, numa sala do Hard-Club completamente cheia. Na passada segunda-feira, em mais uma data inserida na programação do Misty Fest (na Casa da Música, no Porto), a situação repetiu-se, agora já sem uma certa ansiedade típica de uma "estreia", mas com toda a beleza sonora que a voz suave de Josh Haden imprime às toadas lentas e algo inebriantes das canções dos Spain. Acompanhado por três excelentes músicos, Randy Kirk (teclas, guitarra), Matt Mayhall (bateria) e Daniel Brummel (guitarra), Josh Haden trouxe consigo um alinhamento que tocou nos principais temas da discografia "Spainiana", com lugar de destaque para o último «The Soul Of Spain» e, obviamente, para o seminal «The Blue Moods Of Spain». Algumas músicas do próximo registo (a sair previsivelmente no início de 2014), que denotam um ritmo mais acelerado mas igualmente melancólicas, foram também apresentadas. No final, já no segundo "encore", "Untitled #1", a fazer parar o tempo, por momentos, numa espécie de felicidade sonora que se queria para sempre. Esta é daquelas bandas que não cansam, por mais vezes que se vejam/oiçam. Esperamos pelo próximo regresso!

Scott Matthew + Valter Lobo @ Misty Fest (Coimbra) (15-11-13)

Faltam(-me) palavras para descrever a experiência que é ouvir e sentir uma das melhores vozes que o mundo musical deu a conhecer nos últimos tempos (a do australiano Scott Matthew). Se em disco a sensação é já de estarmos perante uma espécie de banda-sonora perfeita para o paraíso, ao vivo ela torna-se realidade. E foi isso que, na passada sexta-feira, Coimbra teve a oportunidade de assistir: seguramente, a um dos mais belos e intimistas concertos que por cá passaram. Inserida no Misty Fest, festival que tem vindo a granjear um estatuto cada vez mais sólido, assente numa programação coerente e de qualidade reconhecida e que este ano decidiu alargar as suas datas à lusa Atenas, a actuação do músico australiano (a residir agora em Nova Iorque) irá ficar indelevelmente na memória de todos os que preenchiam o excelente espaço do Conservatório de Música de Coimbra. Acompanhado por dois músicos (Juergen Stark na guitarra e o teclista e pianista M Eugene Lemcio, que teve direito a uma inesperada ovação de parabéns pelo seu aniversário), Scott Matthew, ao contrário do que a sua música mais introspectiva poderia indicar, é um comunicador nato, mantendo uma interacção com o público durante todo o concerto, discorrendo introduções antes de cada tema, afinando de forma descontraída a sua guitarra ou ukulele, partilhando pormenores pessoais e artísticos que mostram, sem qualquer tipo de receio, a pessoa para lá do artista. Quando instado a falar sobre si, define-se como uma espécie de "quiet noise-maker", o que, no fundo, pode ser transposto para o resultado das suas músicas: com uma voz agridoce absolutamente única, que nos faz arrepiar a cada nota, parecendo querer colapsar suavemente, remete-nos para um ruído interior calmo, que transmite, simultaneamente, uma serenidade e uma alegria esfuziante, difícil de conter. O final obtido é de uma beleza simplesmente genial! Assente no seu último registo «Unlearned», onde Matthew dá toda uma nova vida a algumas das canções mais marcantes do seu percurso pessoal e musical, o concerto teve início com uma versão do clássico "To Love Somebody" dos Bee Gees, que teve tanto de inesperada como de deslumbrante. O conceito de versão tem no exemplo de Scott Matthew a definição perfeita: homenagear o tema original, recriando-o com uma alma e identidade próprias, de forma muito honesta. E é isso mesmo que "Total Control", uma canção dos algo obscuros The Motels, demonstra cabalmente. Em "Harvest Moon", do canadiano Neil Young, Matthew "ultrapassa" o original, já de si difícil de conseguir. Numa noite em que os artistas em palco (Scott Matthew e Valter Lobo) cantaram assumidamente "canções tristes" (algumas sobre estar feliz), "Smile", um original de Charlie Chaplin, é por demais desarmante, atingindo o âmago dos presentes de forma delicada e apaixonadamente desarmada. Em "I Wanna Dance With Somebody", canção emblemática na carreira de Whitney Houston, o público canta em uníssono o refrão e faz do artista em palco o homem mais feliz do mundo naquele momento. Pelo meio temos também temas em nome próprio, como "In The End", "Jesse" e "Little Bird" (recuperada do disco homónimo de estreia, editado em 2008), onde o tom melancólico e suave da voz do australiano é entrecortada por picos absolutamente assombrosos. Com mais uma história de vida a servir de mote a uma das mais inauditas versões alguma vez escutadas, Matthew partilha as aventuras sobre a sua adolescência/juventude (quando integrou algumas bandas "punk" australianas) e dá a volta por completo ao clássico dos Sex Pistols "Anarchy In U.K.". Antes ainda, a melancolia doce em "This Guy Is In Love" (imagem perfeita do artista durante toda a actuação), tema da dupla Hal David / Burt Bacharach. Aqui, lembramo-nos de outro grande senhor, com um dom vocal igualmente único, Mike Patton (dos Faitn No More), que também já homenageou esta dupla através deste tema. Já perto do final e antes do mais que merecido regresso ao palco, "Abandoned" revela uns agudos vocais "impossíveis" e "Annie's Song" (tema de John Denver) é apresentada como uma das "melhores canções menos consideradas pela crítica". Ovação geral em pé a pedir um regresso obrigatório, para ouvir ainda "White Horse", tema incluído no disco de 2009 com um dos títulos mais extensos que alguém se lembraria: «There Is An Ocean That Divides And With My Longing I Can Charge It With A Voltage That's So Violent To Cross It Could Mean Death». Para terminar, Valter Lobo e o seu guitarrista juntam-se aos músicos de Scott Matthew para, todos em conjunto, cantarem "Friend And Foes", tema do citado álbum de 2009. Ficou a faltar a cereja no topo do bolo, a versão da canção mais bonita jamais escrita, "Love Will Tear Us Apart" (dos Joy Division), tema que encerrou o alinhamento do concerto no dia anterior em Lisboa. Segundo o próprio referiu no final, enquanto partilhava autógrafos, fotografias e bebia vinho agradavelmente surpreendido por mais esta recepção portuguesa, faltaram "mais algumas palmas" para que tal tivesse acontecido. O esforço vocal que Matthew empreende nesta versão foi também, confidenciado pelo guitarrista Juergen Stark, uma das razões para não a terem tocado. Ficamos todos com pena. A abrir, na primeira parte de uma noite que se adivinhava marcante, Valter Lobo apresentou as canções "bonitas e tristes" do seu registo de estreia, o EP "Inverno", com particular destaque para o single "Eu Não Tenho Quem Me Abrace Neste Inverno" e "Pensei Que Fosse Fácil", onde o cantautor nacional demonstra o ambiente íntimo das suas canções, acompanhado pelo guitarrista Jorge Moura que confere uma magnitude planante, envolta numa moldura melancólica adequada. No início desta espécie de crítica faltavam(-me) palavras. No final sobram(-me) os sentimentos. Directamente para a galeria de concertos memoráveis deste ano!

Sophie Hunger + Flak @ Misty Fest (Coimbra) (14-11-13)

A multi-instrumentista e vocalista suíça, acompanhada por mais quatro excelentes músicos em palco, a deambular algures entre a "pop" e o "jazz", mostrou muita simpatia e empenho, mas que não chegaram para ultrapassar a fasquia da mediania. Com um auditório (excelente em termos acústicos, ou não estivéssemos no Conservatório de Música de Coimbra) muito bem composto, foi já na recta final e, curiosamente, em dois temas (um em regime "a capella" e outro, na frente de palco, completamente acústico) que se ouviu e sentiu o registo mais adequado (próximo de algumas das canções do mundo celestial dos islandeses múm) ao universo de Émilie Jeanne-Sophie Welti, aka Sophie Hunger. A abrir a noite, três músicos em palco para apresentarem as novas canções do novo disco de Flak, a sair brevemente, algumas em estreia absoluta. "Última Vontade" (single de avanço) fez parte de um alinhamento que passou ainda por uma versão resgatada ao reportório do GAC (Grupo de Acção Cultural) e serviu para demonstrar a vontade de continuar uma carreira, já longa, do fundador dos Rádio Macau e Micro Audio Waves, agora mais calma.