quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Cave Story + Black Bombaim + Linda Martini + Moullinex @ PARTY SLEEP REPEAT (OLIVA CREATIVE FACTORY - São João da Madeira) (09-05-15)

Não há muito a dizer de um evento que tem tudo de bom para correr bem: um cartaz excelente, um local de fazer inveja a muitas salas que existem por aí, e um preço deveras convidativo (mesmo contando com a deslocação).
Salientar apenas um par de coisas sobre os artistas (e que artistas):
Cave Story mantêm a boa e recomendável "cena das Caldas" bem viva. Trio de luxo, com destaque particular para o baixo (do tamanho do mundo) e a bateria (qual metrónomo); a voz, algures entre Mark E. Smith e Julian Casablancas, ainda precisa de encontrar a sua identidade, mas potencial não lhe falta. Estreia prometedora!
Black Bombaim são algo do outro mundo. Na realidade são de Barcelos, mas a música que fazem ecoar dos três instrumentos (guitarra, baixo e bateria) é tão tonitruante, que só pode vir de outro planeta (muito post-metal, seguramente). Que abuso de concerto!
Linda Martini apresentaram-se com Makoto Yagyu no baixo a substituir a futura mãe Cláudia. Fizeram a festa que tão bem os caracteriza e que aqueceu ainda mais o ambiente na sala dos fornos (já referi a excelência do espaço, super-adequado a este tipo de eventos?). O som esteve uma maravilha e o resto ficou por conta da cerveja!
Moullinex, versão dj, em modo "pre-after", fez as (minhas) despedidas com a honra e finura musical que se lhe reconhece.
Ficou por ver e ouvir a dupla de djs Tamadão.
Balanço: PARTY SLEEP REPEAT! Sempre!

The Limboos + Subway Riders @ Palco RUC (Queima '15)

(A queima vista do lado de fora... literalmente.)
Primeira noite (e última, para mim) do Palco Ruc na edição deste ano da Queima das Fitas (ou algo parecido à mistura da Feira de Março com o Festival Sudoeste).
The Limboos. Não conhecia (passei a conhecer - a RUC também serve para isto). São espanhóis (vêm de Madrid). Praticam algo parecido a uma mistura de "rythm and blues" com ritmos exóticos/latinos (vindos dos anos 40). Do que ouvi não pareceram maus, mas também não deslumbraram.
A seguir (já passava das 3 da madrugada), o melhor do (cada vez menos) "underground" sonoro nacional: Subway Riders. Reitero o que escrevi anteriormente sobre eles, algures: o melhor não concerto da Queima! E foi isto que fizeram. Subverteram as regras (ou talvez não) dos alinhamentos, fazendo desfilar em doses apreciáveis os "hits" todos logo a abrir, para depois se deleitarem num agradável recebimento dos louros. Desta vez houve problemas de som, houve desafinanços, pregos e deambulações sonoras que fazem parte da matriz da banda. E isso foi bom!
Quando o frio começou a apertar, depois de Calhau ter feito um solo magistral (mas quase inaudível) de saxofone, e de Carlos Dias dedicar uma canção em francês (para parecer mais romântico) a uma "miúda que não gosta dele" ("Adele"), já tinha visto o suficiente para perceber que o Palco Ruc ainda mantém a sua marca que o diferencia no meio daquele caos sonoro, de qualidade mais do que duvidosa, que impera no resto do Queimódromo.

Los Waves @ Salão Brazil (01-05-15)

Falar de Los Waves é falar de rock, pop, electrónica e psicadelismo, misturar tudo de forma equilibrada e servir tudo com uma forte dose de dança.
Ao vivo, são isto e muito mais. Têm um baterista (vejam-no no início do vídeo "Strange Kind Of Love", autêntico hino de Verão, seja em que ano for) completamente alucinado (elogio) que marca um ritmo trepidante, conferindo uma velocidade e "corpo" ainda mais fortes às canções que pedem movimentos de anca contínuos. Exemplos perfeitos que confirmam isto foram os temas "Got A Feeling" e "How Do I Know", canções que definem na perfeição o conceito Los Waves.
A apresentação da banda dizia que "são um projecto único no seu género no panorama nacional, fundindo uma abordagem etérea e envolvente com uma sonoridade pop viciante e catalizadora". Façam um favor a vocês próprios e vejam-nos quanto antes, sem terem que importar sucedâneos de menor qualidade. Vale(m) bem a pena!

Bússola + Les Crazy Coconuts @ Salão Brazil (Festival Santos da Casa) (23-04-15)

Na recta final da 16ª edição do festival que celebra o mais antigo programa dedicado à produção musical portuguesa, a noite esteve a cargo de dois dos nomes mais interessantes provenientes dessa nova "meca" musical, a capital do Lis: Bússola e Les Crazy Coconuts, ambos com a chancela da Omnichord Records.
Sobre os primeiros, faço minhas as palavras do "press release" do evento:
«Quinteto que cruza o folk de cantautor e a chamada indie de uma forma única, onde o contrabaixo e o acordeão conferem um traço e uma identidade única.».
O universo revisto de uns Fleet Foxes é chamado a esta discussão, na medida em que o timbre vocal profundo anda lá muito próximo, mas já com um cunho pessoal, na voz de Pedro Santo. "Come Home" (single de apresentação da banda) é banda-sonora perfeita para uma viagem de regresso (ou ida), através de paisagens de um universo "road movie". Perfeita!
Quanto aos conterrâneos Les Crazy Coconuts, têm no sapateado original de Adriana Jaulino a sua marca identitária. No currículo apresentam o título de "Melhor Banda Nacional" na última edição do Festival Termómetro, e isso já é um começo respeitável. Nota-se uma tentativa de aprimorar o lugar de cada elemento da banda, agora acrescida de um Nice Weather For Ducks (Hugo Domingues, no baixo e na electrónica), mas falta ainda uma maior definição da sonoridade que querem seguir. As bases estão lá, desde um "rock" acelerado de matriz mais electrónica ("Belong" é um bom exemplo), até momentos mais "pop" gingão, como em "Here We Go Again". É apurar esses ingredientes e o resultado final não pode ser menos do que brilhante!

Kraftwerk @ Coliseu dos Recreios, Lisboa (19-04-15)

Regresso a Portugal de uma das bandas mais proeminentes da história da música, em particular da sua vertente electrónica, sendo considerados por muitos como os "pais" da mesma.
Curioso o facto de nos últimos doze anos os germânicos não terem editado nada e, ao mesmo tempo, ter sido um dos períodos com mais actividade nos palcos, um pouco por todo o mundo. Em Portugal, após passagens pelo mesmo Coliseu (igualmente cheio, tal como hoje, em 2004) e numa avassaladora prestação num Festival Sudoeste de boa memória, uns meses depois do Coliseu, os fãs que nunca os tinham visto ao vivo, puderam matar a sua curiosidade de ver um nos marcos fundamentais da cultura musical moderna, na primeira de duas noites que o grupo tinha agendado para o nosso país.
O mote, desta feita, assentava numa apresentação num formato 3D, com a ajuda dos indispensáveis óculos com ar retro, a fazerem lembrar outros tempos em que se olhava para o futuro, ainda longínquo, como se de uma quimera se tratasse. E os Kraftwerk são isso mesmo, uma espécie de simbiose perfeita entre passado e futuro, onde o presente funciona apenas como o tempo intermédio, de passagem, entre um período em que era preciso inventar quase tudo (no que à música electrónica diz respeito, pelo menos), e outro em que parece que está tudo inventado (aparente falácia, claro está). O quarteto de Düsseldord sabe isso muito bem e, em 2015, o que os Kraftwerk têm para oferecer a quem nunca os tenha visto, é um espectáculo em versão 3D. Será isso suficiente para encher a alma de quem já os viu várias vezes? Talvez não. Mas o que falta em alma (algo contraditório, já que é de máquinas, ou de humanos que se comportam quase como autómatos, que falamos), sobra em qualidade em cada um dos dezasseis temas apresentados ao longo de quase duas horas e meia, o que serviu para saciar os menos melómanos e para confirmar, aos restantes, que já tinham "ouvisto" isto, quase na mesma ordem, em qualquer sítio.
Ralf Hütter, único elemento fundador ainda no activo após a saída de Florian Schneider, em 2008, igual a si próprio, numa pose imutável e minimalista, tal como os outros três elementos que o acompanham em palco, protótipo do rigor germânico pós-guerra, parece querer (de)mo(n)strar que a música de dança ainda tem alguns capítulos por completar, e que a máquina electrónica germânica por ele liderada, quer continuar a escrever com linhas de ouro uma história que leva já quarenta e cinco anos de criatividade inigualável.

Los Saguaros + The Dirty Coal Train + Cavemen @ States Club Noites Rock (18-04-15)

"Garage-rock" de boa apanha (no caso dos dois primeiros nomes) e uma salganhada sonora (bem executada, honra lhes seja feita), no caso dos terceiros, foi o que a última das States Club Noites Rock teve para oferecer, com a última "curadoria" de Joana Tê, a grande dinamizadora destes eventos.
Los Saguaros, duo composto por Diogo Augusto e Samuel Silva (ex-Sonic Reverends e Jack Shits), tiveram a companhia de dois vultos do "rock" nacional, sediados em Coimbra: Victor Torpedo (sumidade maior na guitarra, com marca registada nos The Parkinsons, só para citar o projecto mais presente) e Calhau (estrela "punk", na verdadeira acepção do termo, tocador de baixo, ele que também anda pelos Subway Riders, onde brilha no saxofone ao lado do companheiro Torpedo). "Desert-rock" servido sem contemplações, com uma velocidade e qualidade irrepreensíveis, assente no seu registo «Yuma», de onde cabe destacar os intensos "Nazaré" e "I Killed My Girl" (com a colaboração, também no disco, de Víctor Torpedo), deram conta do recado, numa actuação que talvez devesse ter sido a última e não a primeira, tal a adrenalina provocada com cada tema tocado.
A seguir, mais um projecto a recrutar um músico local, senhor de muitas horas a marcar ritmos atrás da bateria num infindável número de bandas, cada qual com a sua marca pessoal, Carlos Mendes (mais conhecido apenas por Kaló): os The Dirty Coal Train, trio clássico, a fazer lembrar outros exemplos perfeitos do "garage-rock" com muita energia "punk", onde guitarra, baixo e bateria servem os propósitos da cartilha do género: "riffs" intensos e cortantes, cordas pulsantes e bombos e tarolas a marcarem ritmos acelerados, mas sempre com a cadência certa. Pode-se dizer, com alguma propriedade, que são do melhor que os palcos nacionais têm para mostrar dentro do seu nicho musical, cada vez mais interessante (quer em termos de qualidade, quer em termos de quantidade). Mostrem(-se) mais vezes e a mais público! Vale(m) muito a pena.
A fechar a noite, os Cavemen, trio conimbricense com uma base sonora de influências tão díspares como o estilo dos seus elementos, do "dub" e "ska a la Clash fase «Sandinista»", passando pelo "rock gótico" dos Bauhaus (numa versão bastante competente de "Bela Lugosi's Dead"), até ao "rock'n'roll" de matriz mais clássica, deram um concerto quase em regime "fade out", situação que poderia ter sido evitada, caso a ordem de actuação das bandas tivesse sido invertida.
Fica, no entanto, a celebração de uma bela noite (a última, pelo menos neste formato) de bom "rock", a fazer lembrar que Coimbra ainda tem aquilo que sempre teve, mas isso, por si só, já não basta para voltar a ser aquilo que nunca foi: a "capital do rock".

Best Youth - Live Radio Showcase @ Corredor da RUC (Festival Santos da Casa) (18-04-15)

Mais uma etapa da 17ª edição do Festival Santos da Casa, evento anual que a dupla do programa mais antigo de divulgação portuguesa leva, diariamente, para o éter, através dos 107.9fm da Rádio Universidade de Coimbra.
Convidados de honra: a dupla portuense Best Youth, composta por Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas, apresentou ao longo de quase uma hora a sua pop electrónica, de matizes suaves e evocadoras de universos algo próximos de uns The XX.
Com dois registos em nome próprio editados até à data (sem contar com a colaboração com os We Trust e, mais recentemente, com o produtor do colectivo Discotexas, Moullinex), o EP «Winterlies» (2011, via Optimus Discos, disponível para download gratuito), que os deu a conhecer com o belíssimo "Hang Out", e o último e recente longa-duração «Highway Moon» (ainda só em formato digital, em suporte físico a partir de Maio, que serviu de mote a esta apresentação), os Best Youth são já um valor seguro em termos da produção musical portuguesa, atestado também pelas reacções de agrado do público que preenchia por completo o corredor da RUC.
Destaques particulares para "Red Diamond", tema de apresentação do seu disco acabado de editar, bem como para "Mirrorball", dois temas que representam na perfeição a qualidade da composição musical e da excelência vocal colocadas pela banda, que merece o melhor dos retornos.
Dia 12 de Junho, para os que não tiveram oportunidade de os ver/ouvir, regressam a Coimbra para mais uma apresentação, desta feita no Salao Brazil.
Entretanto, o Festival Santos da Casa continua ainda até ao dia 25 de Abril.