sábado, 26 de abril de 2014
Peter Hook & The Light @ Teatro Aveirense (10-04-14)
(Ponto de ordem prévio #1: os Joy Division acabaram após o desaparecimento precoce do seu líder carismático Ian Curtis, mas o seu legado está vivo mais do que nunca e recomenda-se.
Ponto de ordem prévio #2: Peter Hook & The Light soam a banda de tributo aos Joy Division.)
O que se assistiu na passada Quinta-feira no Teatro Aveirense foi uma espécie de emulação da obra da banda de Manchester, assente nos icónicos álbuns «Unknown Pleasures» (de 1979) e «Closer» (de 1980). Dividido em três partes, com direito a pequenas pausas entre cada uma (o que não deixou de estranhar ao público que enchia quase por completo a sala), o concerto teve o condão de reunir várias gerações, desde as que assistiram ao eclodir do post-punk/new-wave, as que cresceram ao som da pop electrónica dos anos 80, até aos mais novos que aprenderam a gostar de música muito por culpa de quatro rapazes que começaram por se chamar Warsaw e que marcariam de forma indelével a história da música moderna.
Para além dos temas dos dois citados registos, Peter Hook passsou ainda pelo reportório dos New Order ("Age Of Consent" foi mesmo um dos momentos mais bem conseguidos da noite). Seria já, no entanto, durante o encore que a comunhão Joy Divisioniana se consumaria na totalidade, com Peter Hook a homenagear o seu colega de banda desaparecido em "Love Will Tear Us Apart" e a comprovar na perfeição os dois pontos prévios aqui expostos inicialmente: as canções dos Joy Division são intemporais (os nossos netos ainda cantarão o refrão "Love, love will tear us apart again. Love, love will tear us apart again."); Peter Hook, acompanhado de quatro músicos competentes, continua a mostrar a qualidade do seu baixo (marca sonora incontornável na construção das canções, quer nos Joy Division, quer depois nos New Oder), mas não deixa de transparecer a homenagem/tributo inerente de forma explícita (o que numa banda típica de "covers" não seria necessariamente mau, aqui sabe a pouco, muito por culpa de Peter Hook não ser um vocalista).
Em suma, foi bom mas soou mais a uma celebração alheia do que propriamente à banda que estava em palco.
The Legendary Tiger Man @ TAGV (09-04-14)
Em jeito de promoção do seu mais recente disco «True», Paulo Furtado a.k.a. The Legendary Tigerman regressou à sua base natural, aspecto sublinhado com alguma emoção pelo próprio.
Num registo mais alargado (agora com o baterista Paulo Segadães a ajudar a dar ainda mais corpo aos temas do alter-ego de Paulo Furtado), o conceito de "one-man band" não perdeu, de todo, a sua essência natural: a crueza e o registo algo despido, directo ao âmago sonoro das canções. Em palco, contou ainda com a excelente colaboração do saxofonista João Cabrita, a fazer lembrar outras actuações naquele local de um tal senhor, John Zorn de seu nome.
Para se ser um grande artista não basta saber tocar bem um instrumento (ou cantar, embora esse não seja, de facto, o melhor atributo de Furtado); é necessário uma dose de carisma que, em cima do palco, pode transformar qualquer plateia (que enchia por completo o espaço do TAGV) a seu bel-prazer. Protestando quando tinha de protestar por causa de feedbacks algo desnecessários de microfones, num registo bem-humorado Tigerman chamou para perto de si o público, incentivando-o a dançar, a libertar-se, a "fazer o amor lá atrás, no escuro".
Com um alinhamento a privilegiar os temas do último disco, foram revisitados ainda velhos clássicos, de «Naked Blues» a «Femina», num equilíbrio eficaz que contribuiu para uma bela viagem sonora, algures entre o Mississipi e o velho Oeste norte-americano. De momentos mais intimistas e dengosos, como no terceiro tema da noite "Do Come Home" (single de apresentação), até devaneios quase próximos do free-jazz na excelente versão de "These Boots Are Made For Walkin'", cabem destacar, porventura, os dois pontos altos da noite e que são também, dos melhores temas incluídos em «True»: "Wild Beast" e "21st Century Rock'N'Roll", dois portentos sonoros, de verdadeira alquimia entre o blues e o rock da melhor cepa.
«True» é já, na verdade, um dos discos portugueses do ano. Não percam as actuações do Sr. Tigerman para o confirmarem.
Sensible Soccers @ Salao Brazil (22-02-14)
Torna-se difícil catalogar o som emanado por estes quatro artistas (não da bola, apesar desse universo estar omnipresente, a começar no nome da banda e a terminar nos nomes de faixas icónicas, como por exemplo "Sob Evariste Dibo", mítico avançado costa-marfinense do Rio Ave). Mas é fácil concluir que estamos perante um dos melhores nomes da cena nacional no que à música diz respeito.
«8», disco de estreia, sintetiza em oito temas, precisamente, ora os momentos mais planantes e quase lisérgicos, ora as texturas mais intensas que norteiam as matrizes sonoras do grupo, tudo doseado com uma mestria que tem vindo a ser apurada ao longo da (ainda) breve mas interessante carreira.
Algo curto mas intenso, o extra final foi dado com esta maravilha de tema (cujo vídeo é tão "cool") que não podia ser de outra maneira.
Os próximos passos só podem augurar coisas boas, assim o "mercado" esteja atento a este valor seguro!
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
First Breath After Coma (showcase) @ FNAC Coimbra (15-02-14)
O "formato de canção onde a melodia e a voz se cruzam com a intensidade própria" do post-rock (o género que os inspira).
«The Misadventures Of Anthony Knivet», o álbum de estreia, foi o mote para apresentar 5 temas: "Almadabra", "Shoes For Man With No Feet", "Knivet", "Escape" e "Apnea". Disco mais que recomendável, aqui ou em qualquer outra parte do mundo.
A Naifa @ Oficina Municipal de Teatro - Coimbra (13-02-14)
(Post) Fado de combate para lutar contra o velho e bafiento "fado" que (nos) querem impôr. A nova portugalidade musical passa (há já algum tempo) por estes lados. Coerência, competência e criatividade fazem das canções d'A Naifa algo que urge ver e ouvir. Sempre!
Noiserv @ TAGV - Teatro Académico Gil Vicente (24-01-14)
O ano de 2014 começa bem em termos de concertos.
David Santos (aka Noiserv) é um dos músicos nacionais mais interessantes dos últimos anos e, como prova disso, o seu último «Almost Visible Orchestra (A.V.O.)» recebeu uma plateia cheia (para os mais seguidores da sua carreira, é fácil constatar a evolução desde a sua estreia, quase incógnita, até agora, com um reconhecimento tão abrangente).
O "homem-orquestra" apresentou canções sobre a beleza e a simplicidade do dia-a-dia, sobre a importância das pequenas coisas e de pequenos gestos, fazendo introduções simpáticas sobre o contexto de cada tema, da sua feitura. A viagem sonora passou ainda pelo primeiro e interessante registo, «One Hundred Miles From Thoughtlessness», bem como pela banda-sonora do documentário «José e Pilar», com o tema "Palco do Tempo". Um palco que teve a ilustração digital de Diana Mascarenhas, autora também da capa de «A.V.O.», feita com várias peças de azulejo, formando um original puzzle no final.
No final do ano, Noiserv constará, uma vez mais, nas listas de "best of".
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Spain @ Misty Fest (Porto) (18-11-13)
A 19 de Maio de 2012, finalmente (e algo tardiamente também, diga-se em boa verdade), conseguia ver uma das minhas bandas de eleição pela primeira vez, num concerto a todos os níveis exemplar, numa sala do Hard-Club completamente cheia.
Na passada segunda-feira, em mais uma data inserida na programação do Misty Fest (na Casa da Música, no Porto), a situação repetiu-se, agora já sem uma certa ansiedade típica de uma "estreia", mas com toda a beleza sonora que a voz suave de Josh Haden imprime às toadas lentas e algo inebriantes das canções dos Spain.
Acompanhado por três excelentes músicos, Randy Kirk (teclas, guitarra), Matt Mayhall (bateria) e Daniel Brummel (guitarra), Josh Haden trouxe consigo um alinhamento que tocou nos principais temas da discografia "Spainiana", com lugar de destaque para o último «The Soul Of Spain» e, obviamente, para o seminal «The Blue Moods Of Spain». Algumas músicas do próximo registo (a sair previsivelmente no início de 2014), que denotam um ritmo mais acelerado mas igualmente melancólicas, foram também apresentadas.
No final, já no segundo "encore", "Untitled #1", a fazer parar o tempo, por momentos, numa espécie de felicidade sonora que se queria para sempre. Esta é daquelas bandas que não cansam, por mais vezes que se vejam/oiçam. Esperamos pelo próximo regresso!
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